Angústia
"Chamamos de angústia a forte sensação psicológica, caracterizada por "abafamento", insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Na moderna psiquiatria é considerada uma doença que pode produzir problemas psicossomáticos."
Desde aquele dia fatídico, se
assim posso chamar, Ela chegou. Pequenininha, discreta, mas implorando por
atenção, como criança chata que fica puxando a saia da mãe, quando ela está
ocupada. Fiz minha parte, a ignorei, na crença que logo Ela cansaria e iria
embora. Mas não, Ela não foi, apesar da minha indiferença fez questão de se
apresentar e dizer que ficaria por ali mesmo.
A ignorei por dias, cheguei a
fingir que Ela não estava ali e segui em frente, pensei que logo Ela morreria
já que eu me recusava a alimenta-la. Mas não, Ela se mostrava inabalável.
Coincidência ou não, notei que
após sua chegada, aquela certeza que me acompanhou durante quase 22 meses,
pouco a pouco foi se esvaindo. Senti que escapava de mim, como a um acidentado
que sofrerá de hemorragia. De maneira rápida e intensa, e eu não fazia a mínima
ideia do que fazer para impedi-la.
E como eu amava a minha certeza,
a nossa certeza aliás. Sempre me enchia, me tomava e eu me deixava dominar pela
segurança que a certeza me proporcionava. Ficava admirando sua imensa capacidade de crescer e
cada vez mais, me dar motivos para sorrir.
Certo dia acordei e constatei,
definitivamente não estava mais ali, minha certeza havia ido embora sem deixar
vestígios, e em seu lugar brotavam uma cascata de dúvidas e interrogações.
Multiplicavam-se como que por meiose, numa velocidade a qual eu não conseguia
sequer acompanhar.
Enquanto isso, eu mal notara, mas
ela havia crescido. Minhas dúvidas e interrogações as alimentava. De pequena Ela
já não tinha nada. Passou a surgir a noite, quando eu decidia que ia dormir,
ela aparecia e dizia que ainda não era hora. Impiedosa, passou a me fazer
chorar e não sossegava enquanto não me esvaziasse por completo.
O dia amanhecia, e por um breve
momento eu esqueci que Ela havia dormido comigo. Me sentia disposta a
ignora-la novamente, mas bastava a primeira olhada do dia, no espelho, para que
ele me lembrasse, através de meus olhos inchados e olheiras proeminentes, que
eu não deveria e nem iria esquecê-la. Na verdade, Ela passou a me acompanhar
todo o resto do dia. O dia todo, todo dia...
Ficará cada vez mais forte e
tinha vontade própria. Localizava-se onde bem queria. Na maioria das vezes
gostava de sentar na minha garganta, e só saía quando eu estava prestes a
sufocar. Outrora escolhia o estômago como lugar predileto, e se esgueirava por
sua boca, me causando dores que antes eu julgava não poderem ser físicas, só
sentimentais. Mas o seu lugar favorito... ah o seu lugar favorito, era o
coração! Fazia dele sua moradia e por horas recusava-se a ir em bora, de tão
grande, Ela mal cabia naquele coração minúsculo, deixando-o extremamente
apertado. Doía, como doía...
Meus dias passaram a ser divididos
com Ela... quando algo me dizia que eu poderia abandona-la, que bastava eu
querer, Ela vinha sorrateira e sempre zombeteira, sorrindo me dava um direito
no queixo, me nocauteando mais uma vez.
Eu chorava e implorava para algo
maior que fosse no Cosmos, pedindo pra que ela fosse embora... Sentada em minha
cama, Ela soprava a fumaça de seu cigarro em meu rosto, desafiadora, afirmava:
meu bem, eu vim para ficar.
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