Ela não achava
que podia chamar aquilo de tristeza, muito menos de algo depressivo, achava
apenas que era um modo diferente de enxergar a vida. Geralmente acontecia
quando ela se sentia de cabeça cheia e coração vazio. É como se o modo
automático fosse desligado, e ela se visse obrigada a pensar nessas questões existenciais
inúteis. Começava a pensar em como as
coisas não faziam sentindo, a vida não fazia sentido, pensava que era tudo tão
despropositadamente ilógico, desconexo, irrelevante, fútil e superficial!
Desnecessário, talvez fosse essa a palavra. Não conseguia pensar em um
proposito simplesmente pra seguir em frente... E quando se via assim, a única
coisa que desejava era parar de pensar, parar de pensar e voltar para conforto
do seu modo automático. Era tão mais acalentador, tão diferente dessa
inquietude que fervilhava a cabeça e balançava o coração oco e ao mesmo tempo
pesado. Quando mais nova, se sentia assim, ainda que com uma frequência menor,
talvez fosse apenas uma intensidade menor, já não se lembrava... mas nessa
época podia caminhar até a casa de uma das avós e como mágica, o modo
automático era ligado novamente, havia sempre um xícara de chá quente, ou um
copo de leite com achocolatado a sua espera, e o desejo da avó que sempre
estava insatisfeita com a frequência das visitas. Regressava para casa de barriga cheia e mente vazia, e isso lhe
causa um enorme conforto.
Ela cresceu,
não no tamanho... o tamanho continuava o mesmo, mas os questionamentos já não
tinham a mesma proporção, já não podia se dar ao luxo de responde-los com uma
proza no fim de tarde com uma de suas
amadas vós. Mas ainda lhe restava um de suas melhores alternativas: um banho
quente! O vento gelado soprava frio lá fora e um banho quente seria quase um expurgador
espiritual. A sensação era de que a água quente não lavava apenas seu corpo,
mas levava junto às impurezas e questionamentos da alma. Era obrigatoriamente
longo, quente e capaz de esvazia-la novamente. Ficava a espera de um manifesto
do Green Peace a porta do banheiro, certa que gastará água suficiente para
abastecer uma família de cinco pessoas por um mês. Exageros a parte, ela sabia
que era preciso apenas isso, só assim seria. Ela só precisava de um click, só
precisava do seu modo automático de volta.
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