segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Cabeça cheia e coração vazio.

Ela não achava que podia chamar aquilo de tristeza, muito menos de algo depressivo, achava apenas que era um modo diferente de enxergar a vida. Geralmente acontecia quando ela se sentia de cabeça cheia e coração vazio. É como se o modo automático fosse desligado, e ela se visse obrigada a pensar nessas questões existenciais inúteis.  Começava a pensar em como as coisas não faziam sentindo, a vida não fazia sentido, pensava que era tudo tão despropositadamente ilógico, desconexo, irrelevante, fútil e superficial! Desnecessário, talvez fosse essa a palavra. Não conseguia pensar em um proposito simplesmente pra seguir em frente... E quando se via assim, a única coisa que desejava era parar de pensar, parar de pensar e voltar para conforto do seu modo automático. Era tão mais acalentador, tão diferente dessa inquietude que fervilhava a cabeça e balançava o coração oco e ao mesmo tempo pesado. Quando mais nova, se sentia assim, ainda que com uma frequência menor, talvez fosse apenas uma intensidade menor, já não se lembrava... mas nessa época podia caminhar até a casa de uma das avós e como mágica, o modo automático era ligado novamente, havia sempre um xícara de chá quente, ou um copo de leite com achocolatado a sua espera, e o desejo da avó que sempre estava insatisfeita com a frequência das visitas. Regressava para casa  de barriga cheia e mente vazia, e isso lhe causa um enorme conforto.

Ela cresceu, não no tamanho... o tamanho continuava o mesmo, mas os questionamentos já não tinham a mesma proporção, já não podia se dar ao luxo de responde-los com uma proza no fim de tarde com uma  de suas amadas vós. Mas ainda lhe restava um de suas melhores alternativas: um banho quente! O vento gelado soprava frio lá fora e um banho quente seria quase um expurgador espiritual. A sensação era de que a água quente não lavava apenas seu corpo, mas levava junto às impurezas e questionamentos da alma. Era obrigatoriamente longo, quente e capaz de esvazia-la novamente. Ficava a espera de um manifesto do Green Peace a porta do banheiro, certa que gastará água suficiente para abastecer uma família de cinco pessoas por um mês. Exageros a parte, ela sabia que era preciso apenas isso, só assim seria. Ela só precisava de um click, só precisava do seu modo automático de volta.