terça-feira, 18 de agosto de 2015

Entra

Entra

Entra, mas não repara a bagunça. Faz um tempo que venho fazendo companhia aos objetos quebrados e coisas pelo chão. Entra, mas não repara no caos que o último inquilino deixou. Entra... mas, ei?! Como você conseguiu? Não me lembro de ter deixado a porta aberta, não me lembro de se quer de ter tido a intenção de destranca-la novamente. Certamente, foi em um daqueles momentos de distração, em que nossos olhares se cruzaram e apenas sorriram. Destranquei. Nem notei.

Entra, mas não ouvi sequer o teu bater a porta. Tua chegada foi uma grata surpresa, dessas que a gente corre pra fazer um café e arrumar com carinho um lugar a mesa. Entra, mas me desculpa, eu já não tenho uma mesa...   

Entra, que te eu arrumo um cantinho, senta aqui do meu lado. Entra e deixa-me enxergar aqueles olhos que me fizeram colocar a baixo as trancas. Todas as trancas que me jaziam no meu caos particular.

Entra, que desde que você chegou os dias são mais iluminados. Comecei abrindo timidamente uma janela e hoje já ouço a canção que o vento faz passando por todas elas.

Entra, que desde que você chegou, eu não sento mais no chão. Entra que desde que você chegou, eu, que sempre tendo a desordem, me vi querendo arrumar e enfeitar a casa pra te receber.

Entra que eu quero te fazer um bolo de chocolate e perguntar como foi seu dia. Entra que eu quero ouvir você dizendo, como tem vontade de morder minhas bochechas enquanto sorrio. Entra que eu quero eu dividir minhas músicas contigo e o espaço naquela cama de lençóis branquinhos. Entra que eu já não me enxergo fora do teu abraço. Entra, que eu contos os segundos esperando a tua próxima visita.


Entra, mas não repara a bagunça.